O que fizemos

O que fizemos

O Luta se dedica à pesquisa-ação: desde 2015, trabalhamos para pôr em relação a pesquisa acadêmica alimentada pela prática, e uma prática que, por sua vez, ensina e transforma a pesquisa. Em torno disso, realizamos a documentação de experiências utópicas de Floripa e do mundo, promovemos eventos para pôr em contato e levar adiante as redes e saberes dessas experiências, e experimentamos processos pedagógicos heterodoxos para a própria formação-desconstrução de nosso pensamento. Conheça a seguir alguns dos projetos que já realizamos.

Floripa, Cidade Utópica

Em 2016 e 2018, o Luta promoveu a mostra de iniciativas de transformação social Floripa, Cidade Utópica. Os encontros reuniram ao longo de um dia dezenas de coletivos, organizações movimentos sociais, projetos etc. que trabalham para melhorar a cidade e a vida das pessoas que moram nela, oferecendo alternativas às formas de se locomover, produzir, conviver, alimentar, aprender, comprar, descartar, usar o espaço urbano, informar e organizar. As iniciativas foram agrupadas em “ilhas” por temas e convidadas a interagir entre si e com o público, que também pôde participar de seminários, oficinas e debates ao longo do dia. No primeiro Floripa, Cidade Utópica, mais de 1000 pessoas circularam no Centro de Eventos da UFSC. A segunda edição, realizada com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no âmbito da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, alcançou cerca de 500 pessoas.

Você pode conhecer melhor as iniciativas participantes do Floripa, Cidade Utópica aqui.

O portal Catarinas fez reportagem sobre o Floripa, Cidade Utópica de 2016.
https://catarinas.info/floripa-cidade-utopica-um-encontro-entre-pessoas-que-atuam-pela-coletividade/

O portal Desacato fez cobertura ao vivo sobre o Floripa, Cidade Utópica de 2018, com vários vídeos e entrevistas.
http://desacato.info/desacato-esta-no-floripa-cidade-utopica-acompanhe/

Sultopias

O I Sultopias – Seminário de Utopias em Ação no Sul, realizado em 18 e 19 de outubro de 2018 no Centro de Eventos da UFSC, explorou as conexões entre utopia e pensamento, ação política, magia, arte e subjetividade, de forma interdisciplinar e para além da academia.

O Sultopias envolveu discussões relativas à transformação dos padrões de produção, circulação e consumo que caracterizam o capitalismo contemporâneo. Diante da iminência da catástrofe ambiental e humana por conta do aquecimento global, o uso de recursos naturais para a produção e o destino dos dejetos do processo produtivo (incluindo as próprias mercadorias) estão no centro da reflexão dos grupos sociais interessados em impedir o colapso. Esses problemas se somam às desigualdades estruturais que caracterizam a sociedade brasileira, como a concentração de renda e as discriminações de raça e gênero.

No Sultopias, combinaram-se mesas de debate a performances artísticas e rodas de conversa. Intelectuais acadêmicos/as contribuíram com o aporte de perspectivas contemporâneas sobre o conceito de utopia e de linhas teóricas pertinentes à formulação de uma epistemologia utópica (envolvendo, em particular, correntes pós-modernas e pós-coloniais do pensamento). Ativistas e artistas complementaram o debate com perspectivas desde suas áreas de atuação. Assim, o evento contribuiu tanto para dar visibilidade aos estudos sobre utopia no Brasil, desenvolvidos em vários programas de pós-graduação de modo não-articulado, quanto para estimular as vivências coletivas de caráter utópico. Destacou-se o estabelecimento de uma inter-relação entre conhecimento acadêmico, conhecimento prático e experimentação, sob mútua influência; e a consolidação de meios de transformação direta da realidade social.

O seminário foi inovador por cotejar abordagens teórico-conceituais e experiências empíricas: pôs lado a lado, desafiando hierarquias epistemológicas, diferentes tipos de saberes – religiosos, filosóficos, científicos, empíricos, abstratos. Tal contraposição favoreceu não apenas a aprendizagem da numerosa audiência, mas desafiou os/as conferencistas, convidando-os/as a se deslocarem de seus lugares de fala usuais. Em termos acadêmicos, dez dos conferencistas eram provenientes de universidades brasileiras e apresentaram contribuições originais ao debate.

Complementarmente ao Sultopias, realizou-se a segunda edição do evento Floripa, Cidade Utópica, no dia 20 de outubro, reunindo mais de 40 coletivos e movimentos sociais de Florianópolis que se dedicam à construção de uma cidade/mundo melhor. Em conjunto, os eventos contaram com aproximadamente 500 participantes, entre estudantes e professores/as de todos os níveis de ensino, ativistas sociais e militantes políticos, pesquisadores/as, artistas, comunicadores/as e outros/as interessados/as. A organização foi financiada pelo CNPq, como parte da programação da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) de 2018.

Assista aos vídeos com parte da programação do I Sultopias:

Conferência de abertura, “A Utopia indisciplinada: a historicidade de uma ideia extravagante”, com Henrique Estrada Rodrigues

Mesa “Utopia e pensamento”

Mesa “Utopia, realidade e magia”

Programação completa: https://natbarreira.wixsite.com/sultopias

Tópicos Utópicos

Entre 2017 e 2018, o Luta realizou o curso de extensão Tópicos Utópicos, na UFSC, em que pedagogias radicais foram exploradas para tratar de temas como amor, magia, sonho, morte, entre outros.

O Tópicos Utópicos foi um curso de extensão do Laboratório da Utopia, projeto de pesquisa-ação da UFSC voltado ao fortalecimento e à polinização de formas potentes de viver e de pensar. A criação do curso surgiu da sensação de urgência intelectual para uma reinvenção radical dos modos de conhecer cristalizados pelo padrão moderno; uma insurgência de mentes-corpos-afetos ávidos por estudar experimentando — sendo a experimentação não um protocolo para confirmar uma hipótese, mas constituidora do próprio conhecível. Para partilhar e construir os conteúdos selecionados, cada encontro teve sua configuração singular, planejado por diferentes pessoas, desde o acordo básico de que sempre houvesse ao menos um elemento além de uma discussão racional via linguagem falada. Estrutura para desestruturar, desertar do paradigma, desterritorializar o logos, experimentar a mistura, fertilizar o pensamento e outros sensos.

Foram tratados os seguintes temas gerais, experimentando a mistura entre eles, fertilizando a razão com outros sentidos: anticapitalismo, afeto, alteridade, linguagem, utopia, magia, destituição, tempo/morte, sonho, o buraco da emoção, amor. Cada tema serviu como eixo de categorias mais ou menos canonizadas, desde textos e fontes pertencentes ou não à tradição de conhecimento acadêmico. Temas, tons, tessituras para rebentar o que pode vir-a-ser. Poros e neurônios implicados mutuamente em uma zona de descoberta e invenção coletiva. Arena de livre ensaio, sem receita e sem justificativa por precedentes. O objetivo era estudar e discutir temas e textos com ideias inspiradas para transformar o mundo, e fazê-lo de modo também heterodoxo, experimentando modos distintos de ensinar-aprender.

Quer saber mais do Tópicos Utópicos? A gente refletiu sobre a experiência nesse artigo aqui.
https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/rteo/article/view/57645

Introdução à Utopia

O Luta realizou a primeira edição do minicurso de “Introdução à utopia” em outubro de 2020. Com 8h de duração em quatro módulos online, tratamos do conceito e de suas abordagens contemporâneas, de utopias em ação no mundo e em Floripa e das respostas que o pensamento utópico pode dar à vida na/pós-pandemia.

Em breve teremos uma versão do curso para aprendizagem individual.

Pesquisa-ação

Ao estabelecer conexões com experiências de transformação social, o Luta busca fortalecer tais iniciativas e pautá-las na pesquisa acadêmica, bem como inspirar-se nelas para transformar a prática acadêmica. A mudança das coisas – do mundo, do sistema social, das formas de produção – vem acompanhada de uma mudança da forma de pensar, de sentir, de saber, de formar conhecimento. Por isso, nós questionamos as formas convencionais da Universidade e brincamos de experimentar formas novas: novas teorias, novas metodologias, outras compreensões sobre a natureza das coisas e do conhecimento. (Brincar é um modo de aprender.)

Teoria e prática não se separam: quando observamos práticas sociais, podemos observar os discursos, as narrativas, as crenças, os saberes que andam junto a elas. No caso de práticas emergentes, que modos de saber emergem junto? Que tipo de conhecimento utópico inspira e acompanha experiências utópicas?

Uma das premissas que buscamos transformar, por exemplo, é: em vez de pensar em um sujeito-pesquisador/a que investiga um objeto de estudo, partimos da ideia de que sujeito e objeto são inseparáveis: o mundo é todo misturado e a pesquisa é uma forma de navegar por esse mundo. Só podemos conhecer o mundo porque somos parte dele, não porque temos uma visão externa e privilegiada. Isso nos leva a experimentar e inventar metodologias que sejam coerentes com essa percepção. Alguns exemplos são a cartografia social, a etnografia crítica, o ensaio, o diário coletivo…

Outro elemento da perspectiva utópica: em lugar de investigar e detalhar conhecimento sobre o que já existe, buscamos estudar as possibilidades, aquilo que está sendo inventado ou aquilo que vem sendo ignorado ou sufocado pela pesquisa comum. A pesquisa acadêmica, em particular no campo da sociologia, muitas vezes foca em descrever os problemas da sociedade atual – desigualdades de classe, raça, gênero etc. Reconhecendo a urgência de tais problemas, nós focamos a pesquisa em soluções! Observamos experiências sociais que demonstrem possíveis direções para vivermos melhor. Onde existem exemplos positivos de igualdade social, de renda básica, de justiça reprodutiva, de cooperação solidária? É isso que nos interessa: compreender, fortalecer e multiplicar experiências sociais positivas.